quarta-feira, 9 de março de 2011

Vida & Práticas

aros leitores: Começamos hoje a grande viagem da Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa. Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho e da conversão, a Quaresma educa-nos para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. “Levemos, pois, no navio todas as nossas provisões de alimento e bebida, colocando sobre elas a misericórdia abundante de que teremos necessidade. Porque o nosso jejum tem fome, o nosso jejum tem sede se não se alimentar de bondade, se não se dessedentar com misericórdia. O nosso jejum tem frio, o nosso jejum desfalece se o velo da esmola não o cobrir, se a capa da compaixão não o envolver” (São Pedro Crisólogo, Sermão 8).

Diz o Santo Evangelista: «Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» - e continua: «Quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» (cf. S. Mateus 6,1-6.16-18).

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena e Doutor da Igreja, no seu Sermão 8, relaciona maravilhosamente a prática da esmola e do jejum anteriormente descrita: «A esmola está para o jejum como o sol está para o dia: o esplendor do sol aumenta o brilho do dia, dissipa a obscuridade das nuvens; a esmola que acompanha o jejum santifica a santidade do mesmo e, graças à luz da bondade, remove dos nossos desejos tudo o que poderia ser mortífero. Em suma, a generosidade (esmola) está para o jejum como o corpo está para a alma: quando a alma se retira do corpo, traz-lhe a morte; se a generosidade (esmola) se afastar do jejum, é a morte deste».

E o Santo Evangelista no seu evangelho, continua agora descrevendo como deve ser a prática da nossa oração: «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te.» (cf. S. Mateus 6,1-6.16-18).

São Máximo de Turim (? - c. 420), bispo, no seu Sermão 16, ensina-nos uma forma de superar as dificuldades do jejum mediante a leitura da palavra de Deus (oração), ou seja, meditando-a e interiorizando-a, para assim a viver quotidianamente, porque a escuta atenta de Deus, pela sua palavra (Lectio Divina), que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho da nossa fé: «O Senhor tem razão em dizer, neste tempo de jejum, que é o Verbo de Deus que alimenta, para nos ensinar que não devemos viver os nossos jejuns preocupados com o mundo, mas lendo os textos sagrados. Com efeito, o que se alimenta das Escrituras esquece a fome do corpo; o que se alimenta do Verbo celestial esquece a fome. Eis o alimento que alimenta a alma e alivia o faminto [...], que confere a vida eterna e afasta de nós as armadilhas das tentações do diabo. A leitura dos textos sagrados é vida, é a Vida que necessitamos! Como afirma o Senhor: «As palavras que vos disse são espírito e são vida» (Jo 6, 63).

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Imagem: LORENZO Monaco - Antiphonary (Cod. Cor. 7, folio 124v) (1406)

Sem comentários:

Enviar um comentário