quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crise & Comunhão

No anterior texto, em resumo, disse-se que todo aquele cristão que quer ser fiel seguidor de Cristo não pode ficar indiferente e passivo diante das realidades existentes na sociedade que é a sua. Mas para que aconteça esse agir responsável e comprometido, o cristão tem que ter presente na sua vida uma dupla dimensão: a mística, forma intensiva de experiência de Deus e a política que pode definir-se como uma forma intensa de empenhamento social aberto a todos.

O ponto de partida para este novo texto é considerar que o cristão tem que assumir na sua vida esta dupla forma de uma só e mesma atitude - mística e política - para perceber que existe a Igreja como espaço de Comunhão, da qual ele faz parte e é importante a sua presença. São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios, utiliza a imagem do corpo (de Cristo), para expor a importância da unidade dos cristãos na Igreja, na diversidade dos seus membros na sociedade em que se encontram: “Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, (…) O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. (…) Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: «Não tenho necessidade de ti», nem tão pouco a cabeça dizer aos pés: «Não tenho necessidade de vós.»” (1 Cor 12, 12.14.19-21). Assim, a responsabilidade do cristão é a tomada de consciência da sua vocação e missão na Igreja, ou seja, anunciar Cristo ao Homem contemporâneo. Mas não basta anunciar, como afirma o Cardeal Saraiva Martins numa reflexão à Exortação “Ecclesia in Europa” do papa João Paulo II: “É preciso que Ele (Cristo) penetre e ilumine, transformando a sua cultura, bastante diversa, sob muitos aspectos da do passado”.

Por isso, digo que a crise e as hostilidades existentes no mundo actual, Homem contra Deus, Homem contra Homem, Homem contra Mundo, têm origem na ruptura histórica da comunhão com Deus, princípio e fundamento da comunhão e relação entre os homens (cf. GS 46). Então, tendo o cristão como alicerce o texto bíblico e toda a Tradição da Igreja, deve ter a coragem de interpretar e reflectir sobre as realidades sociais para que então não siga e nem se deixe ofuscar pelo relativismo do nosso tempo que postula a separação e o egoísmo e procurar, então, a comunhão operando a mudança tão necessária para que o habitar nesta terra com os outros seja um dom.
Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crise & Santidade

No anterior texto, em resumo, Deus age tanto no mundo, quanto os homens e mulheres nele agem fazendo o bem, salvaguardando sempre a acção gratuita do Amor de Deus por nós. Por isso é que Deus quer precisar de nós na sua obra de salvação e nos deu uma “vocação universal à santidade, que é vocação e ao mesmo tempo missão: santidade, não apenas pessoal e particular, mas para irradiar e santificar os outros” dizia o Cardeal Saraiva Martins, na sua homilia aos peregrinos vindos para a Canonização de José Maria Escrivá, a 8 de Outubro de 2002.

E é este o ponto de partida para este novo texto, Crise & Santidade. O que mais posso dizer acerca desta crise, nada (a nível economico) e nem quero fazer nenhuma análise económica dela, porque já muitos a fizeram e muito melhor do que aquilo que eu sou capaz de fazer. Por isso mais que um comentário ou análise, quero apresentar um meio e um caminho um pouco diferentes, para lidar com esta crise actual.

Começando o pelo meio, proponho a todos, a cada segunda-feira de 11 de Outubro a 20 de Dezembro, vão decorrer uma série de Conferências na UCP, que têm como objectivo analisar esta Crise contemporânea, o nome das conferências é “Portugal 2011, Para além da Crise”. Espero que esta série de Conferências sirvam para irradiar e santificar todos aqueles que governam e gerem este nosso país, para que sejam luz no mundo (cf. Mt 5, 14-16) e façam o melhor em função do Bem comum, porque é o próprio Senhor nos diz «Amarás o teu próximo como a ti mesmo.» (Mc 12, 31). O possível caminho (de santidade) a percorrer (e peço que ninguém se coloque fora desta caminhada, porque todos somos um e neste momento é necessário um agir total de todos, seja qual seja a sua realidade social), é o apresentado por Schillebeeckx no ponto A dimensão teologal em forma política, presente na sua obra La politique n’est pas tout. Jésus dans la culture occidentale: mystique, éthique et politique (A política não é tudo, Jesus na cultura ocidental: mística, ética e política), o cristão pode ter e deve ter o seu lugar no empenhamento sociopolítico. Neste caso, para os cristãos, mística (uma forma intensiva da experiência de Deus, ou do amor de Deus) e política (uma forma intensa de empenhamento social, um empenhamento aberto a todos), devem ser duas dimensões da sua vida cristã (santidade), que devem encontrar-se na unidade que é o amor a Deus e ao próximo, uma dupla forma de uma só e mesma atitude.

Sem a mística (oração), a dimensão política da vida depressa se torna intratável e bárbara; sem amor político, a mística depressa se transformam em sentimentalismo ou interioridade não empenhada. É uma união que todos temos que fazer, senão os 84 milhões de pessoas dos países da União Europeia em risco de pobreza, sem as medidas concretas (mística e política), passarão do risco à pobreza. E é isso que queremos?

E termino com uma passagem da Primeira carta de S. João “Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.” (1Jo 4, 20-21).

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vida & Caridade

No anterior texto tratei o assunto da Vida & Relações, tendo por base aquilo que vivo e vejo em Lisboa. Agora, o texto de hoje apresenta uma outra dimensão da vida de todos os Homens, a Caridade. A Caridade é uma das várias formas de amor e S. Paulo define este amor sendo, “prestável” e como aquele que “não se alegra com a injustiça” (1 Cor 13, 4.6). Porque ao contrario das relações de Amizade e Amor, a Caridade não depende da reciprocidade, (mas na reciprocidade da Amizade e do Amor, um ponto importante a ter em conta, é que deve existir uma iniciativa primeira, ou seja, nunca se deve estar à espera do outro para agir), deve ser desinteressada e é o próprio Senhor que nos diz “porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter?” e “Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu” (Mt 5, 46.44).

Yves Congar, teólogo Dominicano, é autor desta bela e profunda frase que é a causadora deste texto, “Deus age no mundo com duas mãos, sendo elas o Logos (cf. Jo 1, 1.14) e o Espírito Santo”.

Mas a beleza que contêm, a anterior frase, não cessa uma questão, que é uma das questões de sempre e que tocam a todos em qualquer momento da vida. Onde e como se vê a acção de Deus? O próprio justo de nome Job é voz dessa inquietação interior, “Oh! Se pudesse encontrá-lo” e “Mas, se eu for ao oriente, Ele não está lá,e, se for ao ocidente, não o encontrarei; se o procuro no norte, não o vejo; se me volto para o meio-dia, não o descubro.” (Job 23, 3.8-9)

É nos textos do Concílio Vaticano II do qual Yves Congar foi consultor, que encontramos a Constituição Lumen Gentium, e lendo os números 4 e 5 dessa mesma Constituição é nos dito, como age Deus no mundo. Segundo a Constituição, é nos dito que essa acção Deus, acontece através de Jesus e do Paráclito, e Estes através dos Homens, ou seja, o “vértice da criação visível” (Compêndio do Catecismo nº 63) é hoje o instrumento das mãos de Deus, que “guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos”. (LG 5).

Portanto quando primeiramente Jesus, chamando os discípulos, enviou-os e depois tendo sofrido a morte da cruz, ressuscitou, e aparecendo derramou sobre eles o Espírito. Esse mesmo Espírito continua hoje a habitar “nos corações dos fiéis, como num templo, e dentro deles ora” (LG 4) para que como outrora os discípulos exerceram a sua missão de servir, hoje os Homens, se deixem conduzir e guiar pelo Espírito do Senhor e também pelo exemplo da gloriosa Mãe de Deus, que é nossa Mãe e que apenas quer o nosso bem.

Este texto sobre a acção de Deus no Mundo e sobre a Caridade, tem como fim homenagear muitos dos homens e mulheres que são instrumentos do Amor (de Deus) ao próximo aqui na cidade de Lisboa. São inúmeras as associações e grupos que dispõem do seu tempo e da sua vida, para iluminar a vida daqueles que mais precisam e que com a sua ajuda seja ela pequena ou grande trazem o reino de Deus (o reino do Amor) a essas pessoas, porque perceberam ao escutar a palavra do próprio Jesus quem é o seu próximo (cf. Lc 10, 25-28).

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Foto de FabioTeixeira.com

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vida & Relações

Hoje numa aula na UCP, um professor citado Marguerite Yourcenar no seu livro Memórias de Adriano, disse “A vida do meu pai é me mais desconhecida que a do Imperador Adriano”.

E fiquei a pensar, deveras sei e só preciso ir a uma Biblioteca para ficar a saber imenso desta ou daquela pessoa que marcou a História Universal, mas então aqueles que marcam (família, amigos, etc…) ou por outra razão se cruzam na minha história pessoal (pessoas no metro, colegas na Universidade, mendigos, etc…), será que sei assim tanto deles ou melhor estarei interessado em saber?

Sim e não, como o sim e o não na minha história, ou melhor, tenho coisas que quero saber e outras que não, como também só quero partilhar o que acho que devo partilhar, porque nas relações sejam elas quais forem, recebe-se e dá. E numa relação sã, dá-se em função do receber e vice-versa. E é isso que faço, eu sei que é um pouco calculista, mas em certas vezes, tenho medo de dar sem receber não vá acontecer como diz o Evangelista «Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.» (Mt 7,6).

Mas cada um é livre na liberdade de escolher como se coloca ou age nas relações, aberto ao outro para dar e receber ou fechado no seu egoísmo, querendo tudo para si e em função de si sem pensar no outro.

E o que eu vejo nesta cidade de Lisboa, na maioria das relações não existem nem se quer amizade ou até amor profundo e verdadeiro, porque se fossem a maioria não existiam tantos mendigos (porque o outro é o meu próximo cf. Lc 10, 29-37) e nem existiriam tantos divórcios ("Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.»" Mt 19,6).

Por isso, deixo uma proposta de leitura dum pequeno livro de John Powell, S.J. - Porque Tenho Medo de Te Dizer Quem Sou?, que explica muito melhor este post de nome Vida & Relações.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tejo & Teologia

Durante este ano a Universidade que irei estudar será a UCP de Lisboa. Nela vou continuar os meus estudos em Teologia, e tendo por base esse saber plural vou utilizá-lo para estender um novo e pessoal olhar acerca da vida que se vive e se faz na cidade, que tem o Tejo como rio.

Por isso, neste dia de 5 Outubro, inicia-se este blogue, data comemorativa do Tratado de Zamora, onde ocorreu a Fundação da nossa Nacionalidade, devido ao esforço e mérito de D. Afonso Henriques, Primeiro Rei de Portugal, na distante data 5 de Outubro de 1143.

Espero que gostem da leitura.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam