quarta-feira, 25 de maio de 2011

Para sempre…

A poesia é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana retrata, dependendo da imaginação do autor como a do leitor, a forma mais sincera e verdadeira, a dimensão visível e invisível do Homem e do Mundo.

O mesmo acontece “quando o homem louva a Deus, - segundo o cardeal Tarcisio Bertone -a palavra sozinha é insuficiente. A palavra dirigida a Deus transcende os limites da linguagem humana. Por este motivo a palavra pede ajuda à poesia”.

Este meu actual gosto pela poesia nasce do facto que nos últimos tempos, entrei em contacto com inúmeras iniciativas poéticas, obras e poetas, alguns muito importantes na minha vida. E, por isso, tentei seguir-lhes os passos, ainda que titubeando muito…

Imbuído desta loucura, que me transcende, ao falar de Deus, do Homem e do Mundo, e numa forma que poucos irão perceber, aqui deixo o meu primeiro POEMA, o meu primeiro devaneio:

Vida pensada
Desde sempre amada
Pessoal e incompleta
Como terra… que é rocha!

Vida criada
Desde sempre pensada
Consciência e reflexo…
Do sopro que é e dá vida.

Vida amada
Para sempre… criada
Livre e incessante
Como rio que se irá tornar em mar.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Imagem: LORENZO Monaco, Antiphonary (1396)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Homem & Graça

SÓ O AMOR (A GRAÇA) É DIGNO(A) DE FÉHans Urs Von Balthasar

A nossa natureza humana é marcada pela nossa liberdade e pela nossa história. Mas pertence à capacidade do homem conhecer as normas e executá-las correctamente mesmo se, em qualquer caso, pareça ser dificultosa por causa dos inevitáveis condicionamentos pessoais e culturais que assinalam a história e vida de cada pessoa.

À luz do ensinamento de São Tomás, “a teologia afirma que, por mais limitada que seja, a linguagem religiosa é dotada de sentido como uma seta que se dirige rumo à realidade que ela significa”. Este acordo fundamental entre razão humana e fé cristã, afirma que a Graça divina não anula, antes, aperfeiçoa a natureza do homem, a nossa vida.

E, mesmo depois do nosso pecado, não é completamente destruída a nossa natureza, a nossa essência, mas fica ferida debilitada e às vezes até moribunda.

A Graça, concedida por Deus e comunicada através do Mistério do Verbo Incarnado, é uma dádiva absolutamente gratuita com que a natureza é curada, fortalecida e ajudada e assim possa perseguir o desejo inato ao coração de cada e todo o homem que é a felicidade.

Também de modo vivaz e sugestivo, São Gregório de Nissa (século IV), na quinta Homilia sobre o Cântico dos Cânticos, descreve a passagem da humanidade do "gelo da idolatria" à primavera da salvação. Com efeito, aqueles que dirigem o seu olhar para o verdadeiro Deus recebem em si as peculiaridades da natureza divina, mas o homem que se volta para a vaidade dos ídolos passa a ser como aquele que olhava, tornando-se pedra. Portanto, dado que a natureza humana, que se tornou pedra por causa da idolatria, permanece imóvel, encerrada no gelo do culto dos ídolos, por este motivo nasce neste Inverno tremendo o Sol da justiça e desponta a Primavera do sopro do meio-dia, que derrete este gelo e aquece, com o nascer dos raios daquele sol, tudo o que está por baixo; e assim o homem, que foi transformado em pedra por obra do gelo, aquecido pelo Espírito e pelos raios do Logos, voltou a ser a água que jorrava para a vida eterna.

Cristo assumiu todas as componentes da natureza humana porque, de outro modo, o homem não teria sido salvo. E já dizia São Gregório Nazianzo “O que não foi assumido, não foi redimido”.

É precisamente o nosso intelecto, a nossa razão e a nossa vontade que tem necessidade de relação, e de encontro com Deus em Cristo. Para se tornar no homem novo em Cristo e pela sua Incarnação deu-nos a possibilidade de nos tornarmos como Ele.

Maria, que deu a Cristo a natureza humana, que é verdadeira Mãe de Deus e nossa mãe, e em vista da sua altíssima missão foi é modelo para os cristãos, e socorro a ser invocada nas necessidades.

Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam
Pasadas Pimenta
Imagem: MINIATURIST, German - Hitda Codex (1020)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Luz & Morte

«Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo brilhará sobre ti» (Ef 5,14)

Este mundo contemporâneo que surge diante dos nossos olhos, onde existe a injustiça, o sofrimento dos inocentes e a depravação do poder, não pode ser a obra de um “Deus bom”. É para onde nos leva o pensamento: Se Deus tivesse a responsabilidade de um mundo assim, não seria um “Deus justo” e, menos ainda, um “Deus bom”. Não pode existir um Deus que cria algo bom e que, ao mesmo tempo, não o é.

Foi da vivência de tal circunstância histórica que os grandes pensadores da escola de Frankfurt, Max Horkheimer e Teodoro W. Adorno, criticaram o teísmo. O próprio Horkheimer excluiu radicalmente que se possa encontrar qualquer substitutivo imanente para Deus, no intuito de rejeitar ao extremo, a imagem do Deus bom, do Deus justo, e até mesmo a imagem e a possibilidade do Deus que ama.

Se diante do sofrimento deste mundo o protesto contra Deus é compreensível, a pretensão do Homem fazer aquilo que nenhum dos deuses é capaz de fazer, é uma atitude presunçosa e intrinsecamente não verdadeira. Não é por acaso que desta premissa tenham resultado as maiores crueldades e violações contra o mesmo Homem que foi filho, irmão, amigo ou apenas um desconhecido, mas que teve um nome, uma história, com vivências repletas de alegrias e tristezas.

O caminho de hoje não pode ser um caminho sem Deus, poderá até dizer-se que não se pode viver e nem fechar-se à voz de Deus no interior do Homem, à Consciência. Porque um mundo sem Deus e sem a sua voz é um mundo sem esperança e sem ética.

Neste mundo que, à primeira vista, pode ser visto como uma coisa horrenda, onde a morte e o sofrimento parecem falar mais alto, Deus na sua eterna relação de amor com Homem, apresenta como modelo de vida plena a figura do servo sofredor em Cristo Incarnado. E o amor divino que experimentamos e recebemos da sua doação é o motivo para acreditar que o homem seja feito para uma eterna felicidade em Deus. Mas, para isso “sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor” (Ef 5,1-2).

Se, para S. Paulo, a imitação de Cristo no amor universal é condição para que cada Homem se torne filho do Pai do Céu amando os bons e os maus, justos e pecadores, então, a sua recompensa não será dinheiro ou bens, mas a bondade gratuita de Deus e a eterna felicidade em Deus.

Mas a novidade do amor cristão está em ir além do que já faziam e fazem os considerados pecadores públicos e os próprios pagãos que, pelos seus actos, se excluem do Reino de Deus. Por isso, para que este Reino aconteça, o caminho não é a culpabilização de Deus pelas imperfeições inerentes ao mundo mas, antes, o caminho da liberdade na responsabilidade. Neste sentido, Paulo adverte: Nada de “prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância; nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; haja, sim, acção de graças. Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso - o que equivale a idólatra - tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. Não sejais, pois, cúmplices deles. É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz - pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade - procurando discernir o que é agradável ao Senhor. Portanto, vede bem como procedeis: não como insensatos, mas como sensatos, aproveitando o tempo, pois os dias são maus. Por isso mesmo, não vos torneis néscios, mas tratai de compreender qual é a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, que leva à vida desregrada, mas deixai-vos encher do Espírito; entre vós, cantai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e louvai o Senhor com todo o vosso coração; sem cessar, dai graças por tudo a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. (Ef 5,3-10.15-20).

Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam
Pasadas Pimenta

Imagem: MINIATURIST, English - Winchester Bible (1175)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Luz & Vida

“Quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus” (Jo 3,21).

A manhã de Páscoa trouxe-nos o anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! A sua luz invadiu toda a Terra e estendeu-se ao mais recôndito da alma humana, para assim se tornar luz na Luz. Sendo assim e neste Tempo Pascal o Homem deve realizar os actos que estão de acordo com este tempo e com a sua condição, ou seja, actos em Deus.

Para Santo Agostinho, tudo o que está contido na Bíblia foi o que realmente aconteceu e, assim, a criação divina do próprio Adão. Adão, considerado como pessoa individual, representa também toda a humanidade. E se ele pecou, nele pecou toda a humanidade, pois, não havia mais ninguém. A partir daí, Adão é assumido como representante de toda a humanidade, quer no seu todo quer em cada homem em particular.

Cristo como novo Adão representa toda a humanidade na ordem da Graça, pela qual é dado ao homem o auxílio pelo qual, pode não pecar. Porque como está escrito: “o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica” (1Cor 15,45). Esta Graça vivificante e ressuscitadora é um auxílio contínuo que garante não apenas no início, mas também a continuidade da santidade de vida e, por isso, garante também para a vida do Homem a perseverança.

Para entendermos melhor da Graça de que falo, temos que considerar a própria experiência de Santo Agostinho. Ele diz nas Confissões que, a partir do momento do seu baptismo, o encontro com Cristo Ressuscitado, toda a sua vida se transformou, realizando-se nele aquela palavra de S. Paulo segundo a qual «quem está em Cristo é uma nova criatura, o que era antigo passou, tudo se fez novo» (2Cor 5, 17).

Por isso, o cristão inserido no corpo de Cristo – e isto é a Graça pela qual e na qual o cristão de tal modo deve viver – há pecados que não pode praticar. Porque o pecado é contraditório com a condição humana, ele é, na sua essência, idolatria. No fundo, pecar é colocar-se no lugar de Deus e isto pode levar ao desprezo de Deus e dos outros. E além do mais, dominado pela irascibilidade, o Homem perde o controlo consigo e com os outros e aqui atenta contra o seu domínio total, ou seja, ser senhor de si mesmo. Assim fica afectada a sua relação íntima com Deus, com os outros e, essencialmente, consigo. Porque como São Paulo diz, tudo pode fazer-se mas nem tudo me convêm (cf. Ef 5).

Deixo hoje esta breve reflexão, quando diante dos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo II que durante a sua vida viveu de uma forma plena esta Graça vivificante. O seu nome junta-se à série dos Santos e Beatos que, como afirma a Constituição conciliar Lumem gentium sobre a Igreja, os membros do Povo de Deus – bispos, sacerdotes, diáconos, fiéis leigos, religiosos e religiosas – caminham todos para a Pátria celeste.

E a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, que há vinte séculos em Jerusalém trazia viva no seu coração a fé vibrante do Ressuscitado, que ao rezar o terço durante este mês de Maio, participemos dessa mesma fé.

Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam
Pasadas Pimenta

Imagem: MINIATURIST, Frankish - Frankish Psalter (1279)