quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tempo & Beleza

O Homem, ao longo do tempo e impelido pelo mal, tende a não favorecer as reais manifestações da arte e da beleza. De facto, para se conseguir tais elevações, necessário se torna contrariar, primeiramente, a actual tendência cultural e humana, para depois criar a devida disposição interior para que, levantando os seus olhos para o alto, veja e perceba que o Belo é somente Deus e é Ele a fonte de todo o belo. Santo Agostinho confessa tristemente: “Tempos houve da minha adolescência em que ardi em desejos de me fartar dos prazeres mais baixos, e ousei a bestialidade de vários e sombrios amores, e desfloresceu a minha beleza, e transformei-me em podridão diante de Teus olhos, para agradar a mim mesmo e desejar agradar aos olhos dos homens.” (Confissões, Livro II, I).

O papa Bento XVI, na sua recente viagem a Espanha para a dedicação da Basílica Menor da Sagrada Família em Barcelona, retoma este assunto e diz, admiravelmente, que “a beleza é a grande necessidade do homem”, ela "é também reveladora de Deus, porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade e arranca do egoísmo" este homem que tende para o feio, para o mal, “é que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico.” (Rom 7,19).

Gaudí, ao construir a Basílica da Sagrada Família, diz o papa, realizou uma das tarefas mais importantes: “Superar a cisão entre consciência humana e consciência cristã; entre existência neste mundo temporal e abertura a uma vida eterna; entre beleza das coisas e Deus como Beleza (…) numa época na qual o homem pretende construir a sua vida de costas para Deus”. O homem, desde sempre mas ainda mais contemporaneamente, é como aquele filho mais novo que virou as suas costas ao pai pensando que não mais precisaria dele. E disse-lhe: "«Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.» E o pai repartiu os bens (…). Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua." (Lc 15,11-13).

Deus é e deve ser a verdadeira medida do homem, o verdadeiro bem e a verdadeira beleza mas é necessário que o homem tome consciência daquilo que possui, isto é, dos recursos de entusiasmo, de coragem e de amor que existem no seu coração, para que as suas mãos trabalhem em favor desta missão. E concluo com Santo Agostinho: “Assim, pois, meu Senhor e meu Deus, Tu que me deste a vida e o corpo, o qual dotaste, como vemos, de sentidos e o proveste de membros, adornando-o de beleza e de instintos naturais, com os quais pudesse defender sua integridade e conservação, Tu me mandas que Te louve por esses dons e Te confesse e cante teu nome altíssimo. Serias Deus omnipotente e bom ainda que só tivesses criado apenas estas coisas, que nenhum outro pode fazer senão Tu, ó Unidade, origem de todas as variedades, ó Beleza, que dás forma a todas as coisas, e com Tua lei as ordenas!” (Confissões, Livro I, VII).

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

MINIATURIST, Frankish - Frankish Psalter.

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