quinta-feira, 5 de maio de 2011

Luz & Vida

“Quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus” (Jo 3,21).

A manhã de Páscoa trouxe-nos o anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! A sua luz invadiu toda a Terra e estendeu-se ao mais recôndito da alma humana, para assim se tornar luz na Luz. Sendo assim e neste Tempo Pascal o Homem deve realizar os actos que estão de acordo com este tempo e com a sua condição, ou seja, actos em Deus.

Para Santo Agostinho, tudo o que está contido na Bíblia foi o que realmente aconteceu e, assim, a criação divina do próprio Adão. Adão, considerado como pessoa individual, representa também toda a humanidade. E se ele pecou, nele pecou toda a humanidade, pois, não havia mais ninguém. A partir daí, Adão é assumido como representante de toda a humanidade, quer no seu todo quer em cada homem em particular.

Cristo como novo Adão representa toda a humanidade na ordem da Graça, pela qual é dado ao homem o auxílio pelo qual, pode não pecar. Porque como está escrito: “o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica” (1Cor 15,45). Esta Graça vivificante e ressuscitadora é um auxílio contínuo que garante não apenas no início, mas também a continuidade da santidade de vida e, por isso, garante também para a vida do Homem a perseverança.

Para entendermos melhor da Graça de que falo, temos que considerar a própria experiência de Santo Agostinho. Ele diz nas Confissões que, a partir do momento do seu baptismo, o encontro com Cristo Ressuscitado, toda a sua vida se transformou, realizando-se nele aquela palavra de S. Paulo segundo a qual «quem está em Cristo é uma nova criatura, o que era antigo passou, tudo se fez novo» (2Cor 5, 17).

Por isso, o cristão inserido no corpo de Cristo – e isto é a Graça pela qual e na qual o cristão de tal modo deve viver – há pecados que não pode praticar. Porque o pecado é contraditório com a condição humana, ele é, na sua essência, idolatria. No fundo, pecar é colocar-se no lugar de Deus e isto pode levar ao desprezo de Deus e dos outros. E além do mais, dominado pela irascibilidade, o Homem perde o controlo consigo e com os outros e aqui atenta contra o seu domínio total, ou seja, ser senhor de si mesmo. Assim fica afectada a sua relação íntima com Deus, com os outros e, essencialmente, consigo. Porque como São Paulo diz, tudo pode fazer-se mas nem tudo me convêm (cf. Ef 5).

Deixo hoje esta breve reflexão, quando diante dos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo II que durante a sua vida viveu de uma forma plena esta Graça vivificante. O seu nome junta-se à série dos Santos e Beatos que, como afirma a Constituição conciliar Lumem gentium sobre a Igreja, os membros do Povo de Deus – bispos, sacerdotes, diáconos, fiéis leigos, religiosos e religiosas – caminham todos para a Pátria celeste.

E a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, que há vinte séculos em Jerusalém trazia viva no seu coração a fé vibrante do Ressuscitado, que ao rezar o terço durante este mês de Maio, participemos dessa mesma fé.

Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam
Pasadas Pimenta

Imagem: MINIATURIST, Frankish - Frankish Psalter (1279)

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