quarta-feira, 6 de abril de 2011

Manifestação & Gratuidade

As acções de Deus pautam-se por uma gramática radicalmente diversa da nossa. As nossas são marcadas pelo egoísmo, as de Deus são puro amor. Quando Deus escolhe, se tivéssemos que apontar um motivo para a Sua escolha, esse motivo não seria, certamente, em função do valor da pessoa ou da sua beleza. Deus escolhe pela gratuidade de manifestar o seu amor nos Homens, logo, podemos falar de amor ou predilecção.

Ao falar de amor ou predilecção, podemos correr o risco de misturar a dimensão teológica que tem função catártica, ou seja, de purificar o nosso agir e o nosso olhar, com a visão grega, em que a escolha é feita em função do que atrai e seduz o olhar. (cf. Platão sobre o amor nos seus diálogos). Mas esta é a diferença ontológica entre Deus e os Homens. Deus é o Belo e nada há mais belo que Ele, por isso, o seu olhar nunca seria seduzido. É por isso que o que O move é tornar belo o homem, isto é, criar “o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra.” (Gn 1,27-28).

Deus quando escolhe, não escolhe os melhores, antes, torna-nos melhores, para confundir os sábios. E quando Deus escolheu o povo de Israel, como seu povo eleito, não é porque ele é melhor que os outros, mas sim porque Deus quer manifestar nele o seu poder transformando-o. "Por isso, a atrairei, a conduzirei ao deserto e lhe falarei ao coração" (Os 2, 16).

Exemplos dessas escolhas especiais feitas por Deus, podemos vê-los em Oseias, Jeremias, Moisés e até S. Paulo. Sendo que este último dizia de si: “Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril” (1Cor 15,8-10).

Mas é sobre a actualidade da mensagem de Oseias que quero hoje falar. Denuncio das injustiças e da corrupção. Oseias insistia, particularmente, na corrupção do culto e da política. O profeta desmistifica a História, adoptando uma posição crítica. E é a partir desta visão da História que desenvolve a teologia do amor nupcial de Deus pelo seu povo: Deus ama com um amor fiel; ao contrário, o povo responde com infidelidades: “Juram falso, mentem, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e derramam sangue sobre sangue. (…) – e o amor deles para com Deus – é como a nuvem da manhã, como o orvalho matutino que logo se dissipa.” (Os 4,2;6,3)

Todavia, depois da dureza de todas as críticas e do anúncio da desgraça, o castigo não é a última palavra de Deus revelada pelo profeta. Mesmo que o povo não esteja totalmente arrependido, Deus acolhe-o e ensina-o como pai, e o seu amor gratuito acaba por triunfar.

É como nos ensina o nosso Papa Bento XVI no seu livro, Luz do Mundo e, assim, concluo: “Existem tantos problemas. Todos têm de ser resolvidos, mas nenhum é resolvido se Deus não estiver no centro e não se tornar de novo visível no mundo”.

Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam
Pasadas Pimenta

Imagem: ANGELICO, Fra - Missal 558 (Folio 21) (1430)

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