quarta-feira, 23 de março de 2011

Esmola & Acção

Na semana passada, no artigo Oração & Acção, desenvolvi a ideia que a acção, tendo como fim o bem, tem que ser precedida pela oração. Hoje, imbuído pelo espírito quaresmal, vou falar de um acto particular e concreto que podemos praticar no nosso dia-a-dia e que adquire um forte sentido neste tempo que vivemos. Refiro-me à esmola como acto de amor para com quem precisa.

«O nosso mundo precisa de ser convertido por Deus, tem necessidade do seu perdão, do seu amor e de um coração novo», ressaltou Bento XVI na homilia de Quarta-Feira de Cinzas, na basílica de Santa Sabina no Aventino. Precisa de um coração novo, daquele coração onde palpite o amor que Jesus nos ensinou e o próprio discípulo predilecto nos recorda na sua primeira carta: “Foi com isto que ficámos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.” (1Jo 3,16). Por isso, nada nos deve animar tanto ao praticar o amor pois é nisso que consiste a perfeição da caridade fraterna: Fazer o bem ao próximo.

A esmola na tradição cristã está ligada, estreitamente, ao jejum. São Leão Magno ensinava num dos seus discursos sobre a Quaresma: "Aquilo que cada cristão deve realizar em todos os tempos, agora deve praticá-lo com maiores solicitude e devoção, para que se cumpra a norma apostólica do jejum quaresmal, que consiste na abstinência não apenas dos alimentos, mas também e sobretudo dos pecados. Além disso, a estes jejuns obrigatórios e santos, nenhuma obra pode ser associada mais utilmente que a esmola que, sob o único nome de "misericórdia", inclui muitas obras boas. Imenso é o campo das obras de misericórdia." (Discurso 6 sobre a Quaresma, 2: PL 54, 286).

No Espelho da Caridade, do Beato Aelredo, abade, (Séc. XII), salienta-se: “Jesus não Se contentou com pedir; quis também desculpar – o Homem –, e acrescentou: Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem. São, na verdade, grandes pecadores, mas não sabem avaliar a gravidade do seu pecado; por isso, Perdoa-lhes, ó Pai. Crucificam-Me, mas não sabem a quem crucificam, pois se o soubessem, não teriam crucificado o Senhor da glória; por isso, Perdoa-lhes, ó Pai.

Portanto, se o homem quer amar-se a si mesmo com amor autêntico, não se deixe corromper por nenhum prazer da carne. E para não sucumbir à concupiscência da carne, dirija todo o seu afecto à admirável humanidade do Senhor. Enfim, para mais perfeita e suavemente repousar na alegria da caridade fraterna, abrace também com verdadeiro amor os seus inimigos”.

Cristo, no alto da cruz, intercede junto do Pai por nós. Intercede pelas nossas faltas de amor para com Ele e para com o nosso próximo (caridade fraterna - esmola). Mas se a esmola está intimamente ligada ao jejum, a esmola está também profundamente ligada à oração. Exemplo disso é a doação do nosso tempo rezando pelo mundo inteiro, para que este converta o seu coração a Deus. Acredito que uma pequena oração por alguém, poderá suscitar de Deus uma graça incalculável.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Imagem: MOSAIC ARTIST, Italian; The Cross of Life (1118)

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