quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tempo & Deus

Na vida, cada vez mais, temos de tudo excepto de tempo. Outrora, parecia haver em abundância o dom do tempo e, hoje, parece que desapareceu tal fartura. Este decréscimo parece ser hoje um problema e, de facto, assim é. É uma questão que afecta toda a dimensão da vida pessoal e relacional e, afectando a pessoa, afecta-se a sociedade e eis o resultado: Vivemos tempos de caos, de desorientação e de confusão.

Neste mesmo tempo que tem como espaço a sociedade, percebem-se várias tendências que têm como fim afastar abertamente Deus da vida do Homem. E com todas as argumentações e comprovações dizem-nos que é uma perda de tempo gastar o tempo, este bem tão precioso, com Deus. E o incrível é que isto já extravasou o domínio do ateísmo e do agnosticismo e também já chegou, com consequências práticas na vida dos cristãos, àqueles que, pelo baptismo, se tornaram filhos de Deus.

Friamente, digo: Relegaram o seu Pai para segundo plano e, consequentemente, o Seu dia, o único dia da semana dedicado a Ele: O Dies Domini (Dia do Senhor), o Domingo. O Papa Bento XVI, acerca disto mesmo, alerta dizendo: “O Domingo, na sociedade actual, transformou-se num fim-de-semana, isto é, tempo livre. E especialmente na pressa do mundo de hoje, o tempo livre é algo bom e necessário. Mas se o tempo livre não tem um centro interior, do qual provém uma orientação para o todo, acaba por ser um tempo vazio que não nos reforça nem recria. O tempo livre necessita de um centro o encontro com Aquele que é a nossa origem e a nossa meta”.

Aprofundando, através de alguns textos Bíblicos e Patrísticos o porquê da centralidade do dia de Domingo na Igreja, desde as suas origens, vemos como os cristãos tinham e tiveram sempre presente que “Sem o dom do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver”. Os próprios cristãos de Abitínia, actual Tunísia, no ano de 304, surpreendidos durante uma Celebração eucarística dominical que era proibida, foram levados diante do juiz e interrogados. Perguntou-se-lhes porque tinham realizado no Domingo a função religiosa cristã, sabendo que o facto era punido com a morte. Eles responderam: “Sem o dom do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver”.

Tinham consciência que, no Domingo, se vive o encontro com Cristo ressuscitado, na Palavra e no Sacramento. É a luz que ilumina a inteira realidade da pessoa humana e, por isso, “Sem o dom do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver”. É a luz que, como se canta no Precónio Pascal, “liberta das trevas do pecado e da corrupção do mundo aqueles que hoje por toda a terra crêem em Cristo”.

A Igreja, Corpo de Cristo, tem a sua origem no amor do eterno Pai. Celebrar o Domingo é actualizar esse amor como dom que salva. Se a Igreja se debilitar nesta consciência, deixará de tocar o Homem e a História e ofuscar-se-á a sua missão de reconduzir todo o género humano para Deus. Esta é a sua missão mas sem a consciência da importância do Dia do Senhor, continuará progressivamente o êxodo dos cristãos para fora da sua comunidade e o Domingo será apenas um bom dia para descansar.

Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Pintura Number 14: Gray de Jackson Pollock

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