quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mundo & Empenho

Como deve ser o modo de agir dos cristãos no mundo? É com esta pergunta que inicio este novo texto. E, sucintamente, respondo: O seu agir neste mundo deve ser caracterizado pelo empenho nas suas responsabilidades e pelo amor ao seu próximo (cf. Mt 22, 39). Para fundamentar e desenvolver esta minha resposta vou servir-me de duas obras concebidas no séc. II e III da nossa era. Num primeiro olhar, podem parecer muito distantes de nós e que nada de novo nos possam dizer mas, debruçando-nos mais profundamente sobre estes textos, percebemos que revelam grandes desafios para o mundo de hoje.

Desde a primeira hora, os membros das primeiras comunidades cristãs estavam conscientes de como devia ser o seu agir no mundo. Essa clara consciência levava-os, então, a um maior empenho no cumprimento dos deveres correspondentes à sua posição na sociedade. Num documento da antiguidade cristã, Epístola a Diogneto, 5 (séc. II) lemos: «Os cristãos não se distinguem dos outros homens pela sua terra, nem pelo seu falar, nem pelos seus costumes: porque não habitam em cidades exclusivamente suas, nem falam uma língua estranha, nem levam um género de vida diferente dos restantes (…). Habitam em cidades gregas ou bárbaras, de acordo com a sorte de cada um, e adaptando-se à forma de vestir, de comer, e ao modo de vida, aos usos e costumes do país, com uma conduta peculiar que é admirável e, segundo declaração de todos, surpreendente». E Tertuliano, no seu livro Apologético, 42 (séc. III), escreve: «Vivemos como os outros homens; não passamos sem a praça, o talho, os banhos, as lojas, os alfaiates, as hospedarias, as feiras e tantos outros comércios. Convosco também navegamos, convosco somos soldados, lavramos o campo, dedicamo-nos ao comércio, exercitamos os nossos ofícios e expomos para vosso uso as nossas obras».

É segundo este seu empenho que podemos compreender que, permanecendo no seu lugar, os primeiros cristãos tenham melhorado a sua conduta e mudado notavelmente a da sociedade em que habitavam. Se por volta do ano 60 São Paulo advertira os Filipenses nestes termos: «Trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação. Pois é Deus quem, segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir. Fazei tudo sem murmurações nem discussões, para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo» (Fl 2, 12-15). Pouco tempo depois, na Epístola a Diogneto, 5, já lemos: «Casam-se como todos; como todos têm filhos, mas não abandonam os que nascem (…), estão na carne, mas não vivem segundo a carne, passam o tempo na terra, mas têm a sua cidadania no Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com a sua vida superam as leis.».

Como consequência dessa atitude e da actividade apostólica, o cristianismo estendeu-se, em pouco tempo, de um modo assombroso a todo o Mundo. Não estranha, portanto, que o próprio Tertuliano pudesse escrever no Apologético, 1: «Somos de ontem e já enchemos o orbe e todas as vossas coisas: as cidades, as ilhas, os povoados, as vilas, as aldeias, o exército, o palácio, o senado, o foro».

Se ao começar este texto iniciava-o com uma pergunta, gostaria de terminá-lo, agora, com duas: Os cristãos de hoje estão a conseguir transformar o mundo em vez de se deixarem transformar por ele? Estando presentes nas várias estruturas da sociedade e nas mais diversas funções, os cristãos estão a dar testemunho do Evangelho sendo luz do mundo e sal da terra?



Pasadas Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Sem comentários:

Enviar um comentário